Pular para o conteúdo principal

Raison d'être


Hoje resolvi comentar o estado da comunicação social à qual de muitas formas tenho estado sempre ligado.

No século XIX, mas principalmente no século XX, a comunicação social e acima de tudo o jornalismo que não é bem a mesma coisa, tornaram-se no muito falado quinto poder.
Fizeram terminar guerras, cair governos e governantes, ajudaram a desmascarar criminosos, ajudaram a formar uma moral colectiva moderna e a criar a idade da informação. Acima de tudo fizeram o mundo mais pequeno e humano, trazendo para dentro deste novo mundo uma grande parte da população que antes estava ostracizada.

No século XXI, a informação ganhou vida própria, independente de meios institucionais. Cada um de nós está a um "click" de comunicar para o mundo.
A comunicação social tem tido uma tremenda dificuldade em se adaptar a este novo fenómeno. Luta diariamente com quem não tem os mesmos objectivos, as mesmas causas, com quem não tem até quaisquer valores morais. Com quem não tem sequer de responder pelo que publica.

Várias razões assistem a este fenómeno. Na procura da sustentabilidade financeira, a comunicação social, desvalorizou o seu produto, "a notícia", a ponto de o oferecer. Tornou-se refém de publicitários que em muitos casos, não partilham de todo quaisquer  valores deontológicos e que procuram apenas visibilidade. Passou a veiculo de venda para produtos de terceiros.

As redes sociais fervilham de inverdades, meias verdades, exploração de sentimentos alheios e a comunicação social não tem resposta eficaz. Nalguns casos torna-se até eco desta realidade. Pouco ou nada faz para o combater.

Ora, é aqui precisamente que evoco a "raison d'être", e estou certo que a comunicação social e fundamentalmente o jornalismo devem voltar às raízes e questionar-se sobre o seu papel social. Talvez valha a pena pensar se podemos mesmo todos ser jornalistas.

Interessa voltar a perceber o que é uma noticia, pois parece que poucos se lembram, até para que todos voltemos a dar o valor que o produto do jornalismo merece e não o demos por garantido e gratuito.

Comentários

  1. Gostei da reflexão. Aproveito para lhe dar nota de que tem repetida a última frase. Um abraço, Jorge Próprio

    ResponderExcluir
  2. Obrigado Jorge, já corrigi. Isto é algo que me toca pessoalmente e que me tem feito reflectir muito sobre o estado da comunicação social e do jornalismo.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

O populismo

O populismo é fundamentalmente uma forma de retórica politica e social que utiliza como mote a luta contra o favorecimento de elites ou pequenos grupos face à generalidade da população para assim conquistar visibilidade e atingir o poder. É também por isso uma forma de poder e governo. O primeiro grande exemplo clássico é provavelmente o grupo do senado Romano "Os populares", de onde emergiram Júlio César e mais tarde César Augusto que com mestria, popularidade no exército primeiro, e na população de Roma depois, retiraram o poder ao senado e aos republicanos acabando por fundar o Império que lhes sucedeu. O populismo na Europa, foi assumindo várias formas, desde o clássico "dar voz ao povo" em oposição ao paternalismo aristocrático, a reforma do Cristianismo retirando à elite eclesiástica o estatuto privilegiado que teve durante séculos, e até em sentido oposto, marginalizou elites culturais e económicas sobre a forma de conservadorismo rural. ...

Presunção de culpa

Como se sabe, nos estados de direito ocidentais, há um principio de separação de poderes que isola os poderes executivo, legislativo e jurídico. Um quarto poder, não oficial e ainda mal regulado, nasceu com a comunicação social. Se nos três poderes de estado, as regras estão bem definidas e são relativamente bem respeitadas, a comunicação social, dada a sua vocação fundamentalmente privada, dispersa e sujeita ao mercado, tem mais dificuldade em ter uma intervenção tão balizada. Os dias, são de dificuldade e aperto para a comunicação social, que está com muitos problemas em se adaptar aos tempos de massificação da informação. Surgem até apelos de quem quer ver o estado intervir. Espero que o estado não ceda a essa tentação pois seria, por certo, o principio do fim da comunicação social independente. Entrando agora no tema fundamental deste artigo, alguma comunicação social, além de não ter grandes preocupações deontológicas, de ter esquecido o que são notícias, de sacrificar os p...