Realidade para mim, é um conjunto de observações que de alguma forma nos afectam a cada momento. A realidade de cada um evidentemente, porque desconfio fundamentalmente de uma realidade absoluta.
Lembro ainda de uma discussão de adolescência, onde debatia com um amigo, mais preso aos problemas do dia-a-dia e que me criticava por não ser realista. Sempre lhe disse que realidade, cada um tinha a sua. Chamava-me tolo. Talvez seja, mas nunca me convenceu.
Nos tempos em que as ideias de Newton pareciam descrever tudo o que nos rodeava, a ideia de uma realidade absoluta fazia todo o sentido e isso criou raízes profundas em termos sociais que ainda hoje perduram.
Sabemos hoje que a nossa fraca capacidade de percepção do que nos rodeia, em dimensão, tempo ou espectro de frequência, faz-nos ver uma espécie de sombras na parede quase como na alegoria da caverna de Platão.
Einstein, intuiu primeiro, demonstrou depois que nem tempo nem espaço eram absolutos e muito menos imutáveis. O golpe final veio depois com Max Planck e a mecânica quântica, que de repente afirmava que partículas podiam estar em dois sítios ao mesmo tempo. A realidade passou a ser descrita em probabilidades em vez de certezas.
Hoje debatem-se as mais fantásticas teorias, desde haver múltiplas dimensões e que as partículas se movimentam nas dimensões escondidas, aparecendo e desaparecendo das que conseguimos observar, até afinal estarmos todos a orbitar um buraco negro gigantesco e sermos apenas projecções tridimensionais de uma realidade bidimensional.
Voltando à realidade (deste artigo), parece-me claro que o que chamamos realidade é uma construção da nossa massa cinzenta e que nos permite viver e antes disso sobreviver. Nem conseguimos sequer perceber a realidade de quem connosco partilha a vida. Mesmo debatendo o assunto, por muita capacidade de abstracção que possamos ter, vamos sempre interpretá-la de acordo com os nossos pressupostos.
Com a linguagem, a escrita e agora a capacidade de em tempo real partilhar conhecimento de forma global fala-se do florescimento de uma nova realidade, que essa sim parece extravasar as nossas fronteiras anatómicas e ganhar vida (consciência dizem) própria.
Cresce também a inteligência artificial, como nos famosos sonhos electrónicos de Philip K, Dick, parece destinada a ultrapassar as nossas limitações, a questionar os nossos actos, talvez a destruir-nos ou até a fundir-se connosco. Permitirá talvez um dia a ubiquidade do conhecimento e assim uma mais profunda compreensão da realidade. No fundo outra maneira de atingir a antiga aspiração religiosa de nos unirmos ao criador.
Por outro lado, temos hoje as mais variadas simulações de realidade a proliferarem pelo mundo digital. Muitos de nós já nos perguntámos se não seremos, até nós próprios simulações elaboradas, num super-computador de uma civilização avançada. Experiências muito interessantes com fractais, parecem demonstrar que a própria natureza (ou realidade) se comporta da mesma forma e que parece até só existir quando observada.
Toda esta viagem, termina inevitavelmente na pergunta: Interessa mesmo saber o que é a realidade? Sequer se existe realidade? Bom... como alguém anónimo dizia, o bolo de chocolate sabe bem seja real ou não.
Nota: Algumas destas ideias e teorias, foram desenvolvidas a partir do Episódio 8 da série 4 da série "Through The Wormwhole" e que recomendo vivamente a visualização a quem gostar do tema.
Miguel, estas reflexões merecem aprofundada discussão. Mas é um bom ponto de partida. Uma tertúlia na rede.
ResponderExcluirVamos a isso, é para isso que abri este blog.
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