Pular para o conteúdo principal

Tempestade Perfeita



Não, não resolvi falar de furacões e tornados, mas sim de uma peculiar combinação de factores que ameaça reduzir o futebol à dimensão do país. Ainda assim ele teima em se manter grande e projectar o nome de Portugal no mundo.... mas até quando?

Por cá discute-se, justiça, disciplina, maledicência, cargos, tecnologias e até coisas piores. Do verdadeiro futebol... cada vez menos.

A proliferação de programas de televisão e "sites" internet dedicados ao futebol, veio modificar drasticamente o panorama da comunicação social desportiva, roubando espaço aos tradicionais jornais, que bem ao mal, tinham os melhores profissionais e décadas de história.

A competição pela noticia tornou-se feroz, no mesmo dia diz-se que sim, que não e que talvez, sem perceber, sem investigar, sem fundamentar e validar as "fontes". No fim citam-se uns aos outros quando não as têm.

Os clubes, cientes desta fragilidade da comunicação social, construíram departamentos de comunicação cuja principal função, parece nem ser comunicar verdadeiramente, mas sim desinformar, caluniar e insultar. Tudo isto para adepto ver, na vã esperança que a justiça popular resolva ou pelo menos ignore o que a sua organização não consegue.

Os verdadeiros actores, jogadores e treinadores, que na generalidade dos casos gostam do futebol, a cada polémica, a cada discussão sobre colaterais, pedem para falar de futebol, são ignorados e levados sempre para os mesmo caminhos.

Apareceu na comunicação social, um novo tipo de profissão, uma espécie de justiceiro, de clubite mais ou menos disfarçada, dono de uma verdade própria e que se sente no direito de poder por em causa a seriedade de tudo e todos de forma aberta e impune.

A "guerra", entretanto escalou e já está ao nível (ou à falta dele) dos presidentes de instituições seculares e que envergonharia porventura quem esteve na sua génese. Envergonha certamente quem gosta do verdadeiro futebol, aquele que se joga no rectângulo com uma bola.

Ora nem mais, parece mesmo uma tempestade perfeita, em que todos os factores convergem no sentido de a aumentar e aumentar até ter destruído tudo na sua passagem. Só os verdadeiros profissionais do futebol podem inverter isto. Bons exemplos de outras paragens não faltam.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O populismo

O populismo é fundamentalmente uma forma de retórica politica e social que utiliza como mote a luta contra o favorecimento de elites ou pequenos grupos face à generalidade da população para assim conquistar visibilidade e atingir o poder. É também por isso uma forma de poder e governo. O primeiro grande exemplo clássico é provavelmente o grupo do senado Romano "Os populares", de onde emergiram Júlio César e mais tarde César Augusto que com mestria, popularidade no exército primeiro, e na população de Roma depois, retiraram o poder ao senado e aos republicanos acabando por fundar o Império que lhes sucedeu. O populismo na Europa, foi assumindo várias formas, desde o clássico "dar voz ao povo" em oposição ao paternalismo aristocrático, a reforma do Cristianismo retirando à elite eclesiástica o estatuto privilegiado que teve durante séculos, e até em sentido oposto, marginalizou elites culturais e económicas sobre a forma de conservadorismo rural. ...

Presunção de culpa

Como se sabe, nos estados de direito ocidentais, há um principio de separação de poderes que isola os poderes executivo, legislativo e jurídico. Um quarto poder, não oficial e ainda mal regulado, nasceu com a comunicação social. Se nos três poderes de estado, as regras estão bem definidas e são relativamente bem respeitadas, a comunicação social, dada a sua vocação fundamentalmente privada, dispersa e sujeita ao mercado, tem mais dificuldade em ter uma intervenção tão balizada. Os dias, são de dificuldade e aperto para a comunicação social, que está com muitos problemas em se adaptar aos tempos de massificação da informação. Surgem até apelos de quem quer ver o estado intervir. Espero que o estado não ceda a essa tentação pois seria, por certo, o principio do fim da comunicação social independente. Entrando agora no tema fundamental deste artigo, alguma comunicação social, além de não ter grandes preocupações deontológicas, de ter esquecido o que são notícias, de sacrificar os p...

Raison d'être

Hoje resolvi comentar o estado da comunicação social à qual de muitas formas tenho estado sempre ligado. No século XIX, mas principalmente no século XX, a comunicação social e acima de tudo o jornalismo que não é bem a mesma coisa, tornaram-se no muito falado quinto poder. Fizeram terminar guerras, cair governos e governantes, ajudaram a desmascarar criminosos, ajudaram a formar uma moral colectiva moderna e a criar a idade da informação. Acima de tudo fizeram o mundo mais pequeno e humano, trazendo para dentro deste novo mundo uma grande parte da população que antes estava ostracizada. No século XXI, a informação ganhou vida própria, independente de meios institucionais. Cada um de nós está a um "click" de comunicar para o mundo. A comunicação social tem tido uma tremenda dificuldade em se adaptar a este novo fenómeno. Luta diariamente com quem não tem os mesmos objectivos, as mesmas causas, com quem não tem até quaisquer valores morais. Com quem não tem sequer de res...